O que eu estava fazendo?

O sono silencioso de Abel ao meu lado só fazia provar aquilo que eu já sabia que estava fazendo errado. Cook me dera uma miss?o – eu deveria fazer as verdadeiras habilidades do garoto virem à tona e depois poderia voltar para a terra, ficha limpa, casa, emprego digno e uma poupan?a no banco para meus gastos futuros. Nada mais de Starfighter ou navegantes; eu n?o precisaria me preocupar com os Colterons e, qualquer que fosse o destino da terra... Eu o viveria do conforto da minha sala de estar com uma cerveja na m?o. Mas ent?o, eu me virava para o lado naquele colch?o desconfortável e encontrava o rosto sereno de Abel, imerso em sono profundo, a boca entreaberta em um ronco sonoro e me perguntava: que diabos eu estava fazendo?

Pensei em esticar a m?o para tocar o rosto do rapaz, mas me detive no caminho. Eu estava me apegando a ele, isso era óbvio. Eu o fizera se apaixonar por mim, pois assim seria mais fácil usá-lo para o meu propósito, mas no final eu mesmo acabei sendo fisgado por aquele par de olhos virgens e preso na falta que eu sentia se seu corpo, ou no orgulho que sentia quando íamos bem nos treinamentos. Era por esse motivo que eu odiava Práxis com todas as minhas for?as – no come?o, era apenas porque o homem me desafiara e ainda se aproximara do meu navegante mesmo após eu o ter marcado como meu. Agora, eu sentia o sangue ferver ao ver apenas o olhar daquele maldito combatente na dire??o do meu navegador. Abel era meu, e somente eu poderia desejar seu corpo naquela intensidade. Práxis ainda me pagaria muito caro por aquelas olhadelas.

Céus, o que é que eu estava pensando? Por que todo aquele ódio voltado para o combatente mais patético da alian?a sendo que eu sabia que ele n?o me oferecia nenhum risco de nenhuma forma? Práxis nunca conseguiria tomar meu lugar de melhor combatente, e também nunca conseguiria tomar Abel de mim; para fazê-lo, teria que me matar antes, e convenhamos que ele n?o era lá o melhor lutador ali da Sleipnir. Práxis era idiota e patético, e eu come?ava a me igualar ao seu nível por causa desse medo estúpido que a sua presen?a perto de Abel me causava.

Meu bra?o come?ava a ficar dormente sobre o corpo do meu navegador e, como se sentisse meu desconforto, Abel se virou na minha dire??o, descansando a cabe?a sobre meu peito e a m?o em meu tórax. Seus cabelos invadiram meu rosto, provocando-me cócegas e precisei reprimir uma risada. Eu n?o queria acordá-lo, ainda mais depois da noite maravilhosa onde ele n?o só me mostrou um desempenho fantástico na cama, como também no treino, onde nossa conex?o e sincronia eram cada vez mais acentuadas, causando inveja até mesmo no comandante Ethos e seu navegador, o tal do Keeler.

Eu podia sentir as batidas do cora??o de Abel contra meu peito e, inconsciente, passei meu bra?o pelas suas costas, abra?ando-o com um pouco mais de for?a. Cheirei seus cabelos e seu pesco?o, e entrelacei minhas pernas nas suas. Suspirei. Talvez eu pudesse leva-lo à terra junto comigo quando concluísse minha miss?o. Se o interesse no garoto era apenas para usar suas habilidades na derrocada dos 'Terons, talvez ele n?o fosse mais necessário depois de passar seus conhecimentos à frente e talvez pudéssemos deixar toda essa loucura espacial para trás e vivermos uma vida medíocre, porém simples, na Terra.

Ou ent?o talvez Abel me odiasse quando descobrisse que tudo aquilo ali, no come?o, fora apenas uma farsa. Talvez ele se sentisse traído por ter entregado seu corpo pela primeira vez a um homem pervertido e vil que apenas queria usá-lo para seu prazer e depois tirar vantagem da confian?a que só o sexo proporciona a. E nessa hora... Bem, n?o haveria nada que eu pudesse fazer. Abel me odiaria e provavelmente pediria dispensa da nossa parceria, finalmente encontrando em Práxis alguém puro o suficiente para que correspondesse à sua própria pureza. Ou ent?o Abel me diria o qu?o mesquinho eu era e que acabaria essa vida sozinho – outra certeza que eu também sempre tivera. Em ambos os casos, e nos demais que minha cabe?a fantasiava quando imaginava as possíveis rea??es de Abel aos meus atos iniciais, eu acabava sem ele, vez ou outra com um olho roxo.

Soltei um muxoxo, fechando os olhos e respirando profundamente, soltando o ar a pequenos intervalos. Abaixei os olhos e encontrei meu navegante acordado, os olhos abertos na dire??o do meu rosto e as bochechas corando violentamente enquanto ele desviava o olhar do meu. Lancei-lhe meu melhor sorriso provocante, aquele que eu sabia que o desarmava e deixava em minhas m?os.

Ele desviou o rosto, repuxando os lábios em um bico.

– Pare de ficar me encarando, idiota – resmunguei, levantando seu rosto e arrebatando seus lábios em um beijo caloroso antes que tivesse tempo de responder.

Os olhos fixos nos meus fechando-se lentamente, Abel permitiu às m?os de alisarem meu tórax antes de afastarem nossas bocas. Ele já corava, ligeiramente ofegante e, contra minha cintura, eu já podia sentir sua virilha avolumando-se por dentro das cuecas. Mordi seu lábio com for?a, vendo seus olhos encherem-se de lágrimas sua express?o tornar-se raivosa. Eu adorava provocá-lo.

– Eu já falei pra você parar, Cain, maldito...

– Parar com o que, princesa? – Virei-o rapidamente e logo estava com o corpo acima do seu, olhando fixamente dentro de seus olhos. Abaixei-me até sua boca novamente e mordi seus lábios, passando a língua por cima deles e encontrando a sua.

Todo o corpo de Abel parecia despertar ao meu toque, ent?o avancei contra seu pesco?o, passando a ponta da língua desde a base até o lóbulo de sua orelha e depois de volta. E o garoto, sem resistir por nem um segundo, já agarrava os meus cabelos de gemia como uma putinha. Suas pernas envolveram minha cintura e ele friccionava o quadril do meu, esfregando sua ere??o na minha, espalhando calor e desejo pelos nossos corpos. Voltei a lamber seu pesco?o e seu ombro, escutando as súplicas em forma de gemido que Abel emitia, os dedos entranhados em meu couro cabeludo provocando aquela dor sádica.

– Cain... – ele pediu, a voz carregada de vontade. – Arranque logo essa roupa...

Ele n?o precisava me pedir duas vezes. Era uma ordem conceder aquele desejo do meu pequeno loirinho e, num instante, despi-me de minha cal?a e minha cueca, e tirei a dele com um pux?o apenas, revelando aquele corpo que era totalmente meu. Abel voltou a esfregar o corpo no meu e, em uníssono, emitimos o mesmo gemido, nossas vozes em coro ao prazer que proporcionávamos um ao outro. Minhas m?os seguraram as nádegas de Abel e as a abriam gentilmente, um de meus dedos escorregando ali para dentro e minha ere??o latejando ainda mais quando as costas de Abel se arquearam e ele virou o rosto, mordendo o lábio inferior, a respira??o ofegante.

Naquela manh?, amei cada centímetro do corpo de Abel que estava ao meu alcance, é sei sua pele sob meus dedos de todas as formas que me foi possível fazê-lo. Quando atingimos o clímax, juntos, senti-me infeliz por ter de me separar de seu corpo. N?o parecia certo que tivéssemos que coexistir lado a lado, apenas, quando existirmos como um parecia estar muito mais certo. Tomamos um banho juntos, enquanto ele me deixava lavar seu corpo e reagia às minhas m?os com espasmos involuntários, lan?ando-me um ou outro sorriso envergonhado. Aquele sorriso fazia até o mais obscuro de minha alma se iluminar.

??

Eu despia a cal?a que Abel havia acabado de colocar quando a luz vermelha preencheu o aposento e, de forma cruel, nos for?ou a responder.

Alerta de nave Colteron adentrando o hiperespa?o. Alerta de nave Colteron adentrando o hiperespa?o.

Trocamos um olhar apreensivo, voltando rapidamente às nossas roupas e nos preparando para sair.

Time vermelho, direcionar ao hangar 13 para lan?amento. Time vermelho, direcionar para o hangar 13. Favor copiar esta mensagem.

– Copiado – respondemos juntos.

A voz do outro lado se calou e, antes de sairmos, Abel me puxou para um beijo caloroso.

– Vamos terminar o que come?amos assim que voltarmos – e ent?o piscou para mim e mordeu a cicatriz em seu lábio.

Maldito moleque que sabia como me provocar.

Entramos na Reliant e assumimos nossas posi??es rapidamente, já decolando ao primeiro sinal de Keeler. Abel nos levou para o vácuo do espa?o, manobrando nossa Starfighter com majestade, como ele sempre fizera. O garoto controlava a nave t?o bem que parecia que ela era um anexo de seu próprio corpo.

Foi naquele exato momento, quando ele se manobrava para entrar na forma??o beta, que o sinal de alerta interno come?ou a apitar, indicando que havia inimigos por perto.

– Abel, me coloque na mira – ordenei, agarrando os controles das metralhadoras, esperando apenas que a nave entrasse em meu campo de vis?o. Mas tudo o que o painel à minha frente me mostrava era o… nada. – Abel!

– N?o há no que mirar, Cain! – O grito veio do banco da frente, o nervosismo atípico de meu navegador deixando-me apreensivo.

– Como assim, moleque?

– Olhe para a imagem do painel! – Ele me respondeu, exasperado. Reliant se mantinha parada, suspensa no vácuo enquanto os sons das turbinas do lado de dentro aumentavam gradativamente. – N?o mostra nada! Estamos mirando no nada!

– Você que n?o está vendo essa merda direito – rebati, procurando qualquer ponto luminoso que poderia indicar o inimigo no qual eu deveria atirar. Apertei os controles ainda mais nas m?os, ordenando ao comando de voz que me ligasse ao comandante. – Ethos, n?o há nada aqui fora!

Nós também n?o encontramos nada, Reliant!

A voz de Deimos me trouxe ainda mais p?nico. ? sua resposta, os outros combatentes e navegantes do time vermelho mandaram sinais semelhantes de que n?o havia nada contra o que lutar. Olhei de relance para o mapa, e pontos vermelhos de alerta continuavam piscando, indicando que deveria haver alguma nave Colteron ali para combatermos. N?o seria possível que todo o sistema de comunica??o da alian?a estivesse com problemas técnicos, pelo menos n?o naquele nível.

– Abel, avance – ordenei.

– Para onde, Cain? – Ele perguntou, e escutei-o desafivelando seu cinto do banco, virando-se para mim. – O que eu fa?o?

Seus olhos estavam arregalados, procurando respostas nos meus, e eu também n?o sabia o que fazer.

Um baque surdo, violento, atingiu Reliant do lado esquerdo da nave, jogando o corpo de Abel sobre mim. Um fio de sangue escorria pela sua testa quando levantou, ligeiramente atordoado. Seus olhos piscaram freneticamente, como que tentando se situar, e soltei os controles das armas, envolvendo-o em meus bra?os.

– Abel – chamei. – Abel, você está bem?

– Estou… – ele balbuciou, sacudindo a cabe?a, a express?o atordoada. – Cain, precisamos sair daqui logo. Algo me diz que…

Outro choque, e, mais uma vez, o corpo de Abel se sacudiu em meus bra?os. Passei a m?o em seu rosto, e acionei o comando de voz novamente.

Reliant, recuar!

Ordenou a voz de Keeler, t?o desesperada quanto a nossa deveria estar.

– Keeler, Abel n?o está bem! – Vociferei em resposta. – Precisamos de apoio para voltar!

E ent?o, apareceu a enorme nave 'Teron, materializando-se à nossa frente do nada, uma onda de energia circulando-a e um par de canh?es apontados na nossa dire??o.

– Merda…

O primeiro tiro nos atingiu em cheio direto nas turbinas externas. Reliant tremulou para o lado, enquanto eu tentava me desvencilhar do corpo de um Abel semi-adormecido em meus bra?os, os olhos fora de foco. Voltei a pedir ajuda pelo comunicador, mas obtive apenas o silêncio em retorno. Berrei por Deimos e por Ethos, até mesmo Práxis, qualquer um que pudesse vir ao nosso auxílio, mas n?o havia nada além do som das batidas do meu cora??o pulsando fortemente, o sangue em minhas têmporas causando-me uma moment?nea surdez.

Prendi o corpo de Abel ao meu banco, beijando sua testa rapidamente antes de me esgueirar para o assento do navegador, tentando me lembrar das li??es básicas que havia aprendido nas col?nias. Eu apenas precisava executar uma manobra de evas?o e logo estaríamos fora de perigo, ou pelo menos era isso que eu queria pensar. Em minha mente, apenas duas imagens alternavam-se; o corpo desfalecido de Abel no banco atrás do meu e os canh?es de plasma que agora puxavam toda a cinética espacial, recarregando-se e voltando a mirar em nossa Starfighter.

Puxei os controles, finalmente conseguindo dar ré em Reliant e virando-a na dire??o de onde havíamos vindo, sinalizando com as m?os e esperando que as naves próximas à nossa nos vissem e entendessem que precisávamos recuar. Deimos precisava me ajudar naquele momento, mais do que em qualquer outro antes. Acionei a propuls?o de emergência e senti meu corpo grudar no banco quando avan?amos em dire??o à Sleipnir que já nos aguardava com as comportar abertas.

– Logo chegaremos, Abel – falei para o garoto, tentando olhar para trás, mas sendo impedido pelo banco. – Aguente firme, ok?

Inclinei ainda mais os controles para frente, voltando a sentir o impulso das turbinas e um solavanco forte se fez sentir no momento em que alcan?amos o hangar. Sleipnir fechou as portas e um amontoado de pessoas se fechou à nossa volta. Minhas m?os tremiam ligeiramente enquanto eu tentava desafivelar meus cintos e, quando consegui, abri a escotilha que dava para fora da nave, buscando mais espa?o para conseguir me virar para Abel.

Saltei para fora de Reliant, já procurando a alavanca extra do lado do combatente e senti o cora??o parar por milésimos de segundo em meu peito. O lado da nave onde eu deixara Abel estava parcialmente destruído, e um buraco do tamanho de um palmo, aberto no vidro. Completamente imerso em desespero, empurrei as pessoas que se aproximavam do meu navegador arranquei o restante do vidro estilha?ado com as m?os, desafivelando o cinto do garoto e arrancando seu corpo de lá com as m?os cheias de sangue.

– Se afastem – berrei t?o alto que minha voz falhou no final. – Saiam de perto!

O corpo de Abel tremulou em minhas m?os quando o deitei no ch?o frio do hangar. Ele abriu os olhos em linhas finas.

– Cain?...

– Cale a boca, moleque – sussurrei, colocando a m?o em seu peito e sentindo uma pontada.

Quando olhei, seu uniforme alvo estava manchado de carmim, quente, e salpicado de cacos de vidro. O sangue se alastrava pelo seu tórax e seus bra?os… e aquele sangue n?o era meu.

– Vai ficar tudo bem, ok? – Falei, puxando seu corpo para cima do meu colo e abra?ando-o com cuidado.

Uma tosse veio do mais profundo da garganta de Abel, e senti sua m?o tocar meus bra?os, apertando-os com for?a. Levantei o rosto e encontrei diversas caras pesadoras me encarando de volta.

– Alguém procure ajuda! – Vociferei, n?o entendendo o porquê de todos ficarem parados daquele jeito, estáticos, sem fazer nada. – Homem ferido! Chamem o médico!

– Cain… – come?ou Abel, a boca próxima ao meu ouvido. – Estou com frio…

– Abel, n?o se atreva… – Respondi, sentindo a voz embargar no que imaginei que seria choro se formando dentro de mim.

– Me abrace – ele pediu, e apertei ainda mais seu corpo contra o meu, escutando meu navegador gemer de dor. – Mas n?o t?o forte. Você precisa aprender a controlar essa for?a.

Sua voz n?o passava de um sussurro. Voltei a olhar para cima e vi alguns olhos marejados e outros rostos abaixados. Mas ninguém ainda fora buscar a maldita ajuda! O que havia de errado com aquelas pessoas?

V?o buscar a maldita maca! – Voltei a bradar, vendo um ou outro se mexerem e algumas cabe?as moverem-se em nega??o.

As lágrimas transbordaram pelos meus olhos sem que eu me desse conta. Puxei o corpo de Abel e o peguei em meu colo. Se ninguém me ajudaria, eu salvaria a vida do meu navegante por conta própria. O caminho se abriu quando passei carregando-o, o sangue pingando por ambos os nossos corpos e deixando uma trilha macabra por onde passávamos. Eu já quase alcan?ara a primeira ponte quando, em uma tossida, um jorro de sangue voou da boca de Abel e atingiu meu rosto em cheio. Suas m?os alcan?aram minhas bochechas, passando o polegar por ali numa tentativa falha de limpar a sujeira que havia feito.

– Cain, eu acho que estou indo – ele sussurrou, um sorriso estúpido brincando pelos seus lábios.

– N?o se atreva – repeti, apertando ainda mais o passo. – O médico dará um jeito em você e quando você estiver melhor, eu vou te foder com tanta for?a que você se arrependerá de falar essas bobeiras.

Ele riu, e mais sangue jorrou de seus lábios.

– Você é muito bruto comigo.

– Eu sou bruto – respondi, vociferando para um navegador qualquer que estava dentro do elevador que saísse. – E você só fala besteiras.

– Eu amo você, Cain – ele sussurrou, a voz se perdendo lentamente. Em meus bra?os, eu podia sentir seu corpo tornando-se mais e mais frio, adquirindo uma leveza que só podia significar mais uma coisa. – E isso… – mais tosse, mais sangue – isso n?o é besteira. Lembre-se disso…

– Abel, n?o. – Ordenei, esperando que ele me obedecesse pelo menos uma vez em sua vida.

– Eu vou na frente – ele falou, por fim. Abaixei os olhos a tempo de ver sua boca desenhar palavra sem som, a for?a finalmente deixando seu ser. – Nos vemos na próxima vida para terminarmos o que come?amos hoje, ok?

– Seu idiota, pare de falar besteiras! – As lágrimas rolando pelos meus olhos, pingando em seu rosto sem cor. – Abel, fique…

Mas já era tarde demais. Em um último suspiro, a vida deixou o corpo de Abel no que havia sido a despedida mais dolorosa de toda a minha vida. Meus joelhos enfraqueceram e me deixei cair no ch?o, segurando aquela casca sem vida que antes abrigara a pessoa mais doce que eu já conhecera, e a única que conseguira enxergar dentro de minha alma, ultrapassando toda aquela barreira que eu criara para manter os outros do lado de fora.

Agarrei-me ainda mais ao seu cadáver, beijando seus lábios, suas bochechas, seus olhos, seus cabelos, sentindo pela última vez seu gosto e, em toda a insanidade que tomava conta do meu ser, esperando que ele voltasse para mim, que acordássemos naquela cama conjunta improvisada no ch?o e que seus olhos se abrissem para me desejar bom dia e me desejar.

Eu solu?ava quando as portas do elevador se abriram e tanto Ethos quanto Keeler me encaravam de cima, as express?es pesarosas.

Um vazio se instalou em meu peito.

O que eu faria sem Abel?

[6]