Aviso legal: nada disso me pertence.

NOTAS INICIAIS

Comecei a escrever essa estória em 2019 após assistir a série Gotham e seria uma homenagem aos 80 anos do meu super herói favorito, mas como a vida adulta n?o me permite dedicar tempo suficiente aos hobbies, só em 2021 consegui terminá-la e agora compartilho com outros f?s. A história é uma continua??o da série, usando livremente alguns elementos dos quadrinhos. Essa é, antes de tudo, uma história sobre relacionamentos e família, mas procurei n?o fugir muito da essência dos personagens.

Espero que gostem ^^

CAP?TULO 1 - A mentira de Bruce

Bruce raramente mentia para Alfred, mas precisou daquela vez.

Ele estava longe de Gotham e dissera ao mordomo que estaria resolvendo negócios da Wayne Enterprises. Na verdade, ele até nem precisava mentir, mas sentia-se constrangido de contar ao mordomo que, frente a tantas coisas importantes para fazer, ele ia deixar tudo para sair em busca do paradeiro de seu amor adolescente.

Fazia seis meses que Bruce tinha voltado para a reconstruída Gotham, seis meses que reviu todos os rostos que tinha deixado para trás há dez anos. Todos os rostos, exceto um. Selina Kyle n?o estava Gotham. A "Gata" evaporara da cidade, nem mesmo Gordon sabia o que havia acontecido com ela. Selina havia desaparecido de Gotham há quase dez anos e n?o havia deixado rastro algum.

Barbara Kean recusou-se a falar, mas depois de fechar alguns acordos milionários entre a Wayne Enterprises e sua empresa de constru??o civil, ela deu a Bruce uma única pista:

"Vá a Metrópoles".

Bem, isso, pelo menos, diminuíra muito a área de busca.

Bruce n?o tinha ideia do que fizera Selina ir embora para Metrópolis, uma cidade quase t?o louca e perigosa quanto Gotham. Mas ele precisava descobrir, precisava saber como ela estava e, algo que ele se recusava a afirmar até para si próprio, precisava saber se ela o havia perdoado por ter ido embora.

Ele chegara a Metrópolis aquela manh?, já era tarde da noite e Bruce havia quase perdido as esperan?as de achar Selina. Depois de procurá-la nos registros oficiais da cidade e n?o encontrar nada, e depois de buscar no submundo de guetos e bares onde, se alguém sabia de algo n?o queria lhe informar, ele ousou procurá-la em obituários e hospitais.

E foi assim que ele a encontrou. Para seu imenso alívio, ela n?o constava em nenhum obituário da cidade, mas para sua angústia, ela n?o estava bem.

Naquela noite, Bruce encontrou Selina e descobriu que a menina, que agora era uma mulher, estava novamente presa em uma cama de hospital.

E quando entrou no quarto precário do hospital beneficente de Metrópolis, Bruce teve que fazer mais esfor?o que o normal para disfar?ar suas emo??es, algo que ele fazia muito bem. Sua espinha gelou como poucas vezes acontecera em sua vida adulta, um nervosismo incomum o tomou. Ele aproximou-se lentamente do leito onde Selina se encontrava. A "Gata", estava ali, e mesmo naquela situa??o, ela era ainda mais bonita do que ele se lembrava.

- Selina... – balbuciou ao tocar suavemente a face pálida da mulher. Ele tinha muito a dizer, mas agora n?o adiantava, porque, apesar de ela estar t?o perto como n?o estivera em dez anos, ela jamais esteve t?o longe.

Passaram-se longos instantes em que Bruce, contemplativo, permaneceu ao lado do leito de Selina.

Foram leves batidas na porta aberta que o tiraram de seu estado de contempla??o t?o profunda que n?o lhe permitiu sequer perceber a presen?a de outra pessoa no recinto, outra coisa que ele fazia muito bem.

Bruce olhou para a porta e viu a figura de um homem jovem. Um homem grande, de cabelos arrumados, óculos e paletó.

- Boa noite - o homem falou baixinho ao entrar. - A enfermeira me disse que ela tinha visitas. Fiquei surpreso, ninguém tinha vindo vê-la até agora.

- Você provavelmente já veio. - Bruce falou hostil dirigindo-se ao homem.

- Ah, n?o é o que você está pensando. - O outro apressou-se em dizer - Sou só um amigo, talvez nem isso, um conhecido. Clark Kent. - O homem falou estendendo a m?o para cumprimentar Bruce.

- Bruce Wayne. - Respondeu apertando-lhe a m?o.

- Wayne? Da Wayne Enterprises?

- Sim. – Bruce falou seco - De onde você conhece Selina? – Indagou sem rodeios.

- Ela era uma informante.

- Você é policial?

- Jornalista. – o homem respondeu e Bruce reconsiderou se tinha feito certo em se identificar - Ah, n?o se preocupe, vou ser discreto sobre sua presen?a aqui, - o outro continuou como se lesse os pensamentos de Bruce - principalmente se veio para ajudar Selina. Ela precisa mais do que nunca.

- Você a conhece de onde?

- Das ruas. Ela sempre me conseguia informa??es sobre crimes, eu costumava pagar pelas informa??es. – Ele fez uma pausa ao olhá-la. - Eu me preocupava com Selina.

- Selina nunca precisou que se preocupassem com ela.

- Eu sei disso, - o homem disse com muita calma. - Minha preocupa??o era por causa da menina.

- Que menina?

- A filha de Selina.

- Selina tem uma filha? – Bruce indagou sem conseguir esconder a surpresa, alguma coisa despencando em seu est?mago.

- Sim, ela tem. E por isso sempre me preocupei com ela. Tinha medo de Selina se meter com as pessoas erradas e deixar a filha sozinha. – Clark explicou e os alarmes do monitor cardíaco de Selina se alteraram, os batimentos cardíacos haviam aumentado e Clark percebeu. Ele olhou os monitores e voltou-se para Bruce, agora com a voz mais baixa - Sabe, os médicos acreditam que pessoas em coma tem uma excelente audi??o. Gostaria de continuar essa conversa enquanto tomamos um café? A cafeteria daqui n?o é das melhores, mas eu poderia responder todas as suas perguntas sobre Selina sem estarmos aqui na frente dela...

Em qualquer outra ocasi?o, Bruce jamais iria tomar um café com um jornalista que acabara de conhecer, e muito menos sentia vontade de sair de perto de Selina agora que a tinha encontrado, mas duas coisas levaram-no a aceitar a proposta: uma – ele precisava saber mais sobre Selina e sobre essa suposta filha, duas – seu instinto, estranhamente, confiava naquele homem. E Bruce confiava no seu instinto.

Assim, ele acompanhou o jornalista para a cafeteria do hospital, n?o sem antes olhar mais uma vez para o rosto adormecido de Selina.

/

- Esse café é mesmo horrível, n?o acha? – o jornalista perguntou enquanto tomavam o café da máquina. Passava de meia noite e eram só os dois na cafeteria vazia.

- O que você queria me falar sobre Selina? – Bruce perguntou. – N?o está tentando me tirar informa??es para publicar, n?o é? Por que eu...

- Espere, Sr. Wayne, eu já disse que n?o sou esse tipo de jornalista. -Clark se defendeu. - Meu interesse por Selina é desinteressado, e o senhor é a primeira pessoa nesse mundo que eu vejo que parece ter alguma liga??o com ela. Eu temia que cedo ou tarde algo assim poderia acontecer com ela, e agora estou preocupado com aquela pobre crian?a. Sr. Wayne...

- Pode me chamar de Bruce.

- Certo... Bruce, o que eu queria saber é se Selina tem alguém, algum familiar que seja. Ela precisa de cuidados, e a filha dela também.

- Quanto a isso n?o precisa se preocupar, Sr. Kent.

- Pode me chamar de Clark.

- Muito bem, Clark. Eu pretendo cuidar de Selina. Nós fomos muito próximos no passado, ela foi... – Bruce pensou no que Selina teria sido para ele. – Ela foi minha melhor amiga na inf?ncia.

- Isso me deixa bem aliviado, - Clark disse com o semblante menos tenso.

- Mas, você poderia me dizer o que aconteceu com Selina? Quem fez isso com ela? – Bruce perguntou muito contido, embora apertasse o copo vazio de café quase ao ponto de amassá-lo.

- Ninguém sabe. Só sabemos que ela levou um tiro na cabe?a. Por sorte, foi superficial, embora a tenha deixado em coma. A polícia encontrou ela caída em um beco escuro, a filha do lado em estado de choque...

Uma imagem se formou na mente de Bruce: uma menina em um beco escuro, ao lado da m?e baleada. Uma imagem bem familiar, uma afli??o lhe pressionou o peito...

- E onde ela está agora? A crian?a... – Bruce indagou tentando conter a apreens?o na voz.

- Na assistência social. Uma amiga do trabalho tem uma tia que trabalha lá, eu soube que recolheram a menina assim que Selina foi encaminhada pra cá. Eu posso ajudá-lo a encontrá-la.

- Eu gostaria disso. – Bruce falou levantando-se, Clark repetiu seu gesto. – Como posso compensá-lo? – disse levando a m?o ao bolso.

- Guarde seu dinheiro, Bruce. N?o é necessário. Vou entrar em contato com minha amiga e lhe aviso quando tiver notícias da menina.

- Eu agrade?o, Clark. – Bruce falou estendendo a m?o para o jornalista que a apertou firme. – Vou voltar para Selina agora, pretendo tirá-la desse lugar o mais breve possível.

- Fa?a isso, por favor. Enquanto n?o soubermos quem fez isso com Selina, creio que Metrópolis n?o seja um lugar seguro pra ela. Entrarei em contato em breve.

Clark afastou-se de Bruce sentindo-se imensamente aliviado de saber que Selina e a filha estariam amparadas. Ele, estranhamente, confiava em Bruce. Seu instinto lhe dizia que os sentimentos daquele homem por Selina eram legítimos, e até maiores do que ele parecia demonstrar. Clark sentia-se até um pouco culpado por omitir para Bruce tudo que sabia sobre o ataque que Selina sofrera. Contudo, ele ainda n?o se sentia seguro em contar suas suspeitas, e agora em saber que Bruce Wayne conhecia Selina Kyle, ele ficara extremamente intrigado.

Pois, para uma ladra das ruas, Selina conhecia bilionários demais...

/

Bruce passou aquela noite na cadeira desconfortável ao lado do leito de Selina.

Mil coisas passavam em sua cabe?a enquanto olhava Selina. A sempre presente culpa por deixá-la, os pensamentos sobre uma filha que ela supostamente teve... Com quem? Quando? E na encrenca que ela teria se metido para estar naquele estado. Ele poderia ter evitado tudo isso se n?o tivesse ido embora? Afinal, ele decidiu ir embora pelo bem daqueles que ele amava. Daqueles que amava...

O sol ainda nem tinha raiado quando Lucius Fox ligou para Bruce dizendo que estava tudo pronto para a remo??o de Selina para Gotham.

Bruce acompanharia Selina, mas n?o sem antes encontrar a suposta filha dela. E ele já estava quase saindo em busca da crian?a quando seu telefone tocou. Era Clark.

- Bruce, a menina n?o está mais na assistência social.

- Como assim? – ele indagou imediatamente preocupado. – O que aconteceu?

- Ela foi levada ontem, por um tutor.

- O pai da menina? – Bruce indagou um tanto ansioso.

- N?o, n?o sei quem a levou, na verdade. A assistente social assinou um termo de confidencialidade. Mas tem algo muito estranho...

- O que?

- A custódia da menina... tem certeza que n?o a solicitou?

- Claro que n?o, nem sabia que ela existia até você me contar.

- Bem, a custódia... foi mediada pelos advogados da Wayne Enterprises, Bruce.

Bruce ficou estático, sua mente trabalhou em mil possibilidades em uma fra??o de segundo, e ele respondeu com convic??o para Clark.

- Acho que sei onde ela está.