Uma tarde que já n?o parecia ser de muito Sol e eu a cruzar uma via desconhecida na minha doce e feroz Alice, n?o posso dizer que carrego bagagem de verdade, n?o material, apenas pensamentos soltos, alguns até que cheguei a pensar habitarem um passado esquecido, a minha frente está apenas um caminho descolorido pelo asfalto desgastado e um pouco de vento que, embora insista em golpear meu rosto, me traz uma leve e agradável sensa??o por n?o se encontrar em seu furor. Me parece cada vez mais que Basin City ficou para trás, todos os momentos degradantes naquele lugar execrável n?o me preocupam mais, finalmente me sinto livre!

Aos poucos o cenário vai ficando cada vez mais mórbido, e a vida, que já era escassa por ali, resolvi se ausentar de vez mas nada que me fa?a interromper minha jornada. Aos poucos o alaranjado que tinge o céu dá lugar a uma escurid?o que n?o podia ser ignorada, nenhuma estrela ou mesmo a Lua acima de mim, e a amável brisa que outrora me acompanhava agora já n?o se faz mais presente, uma sensa??o estranha percorre meu corpo, uma sensa??o de temor, sinto meu corpo pesado e tudo vai sucumbindo à escurid?o...

Abro os olhos e percebo que n?o estou mais a pilotar Alice, nem me encontro aos de pé, pare?o estar ajoelhado e n?o consigo enxergar o que me cerca. Vejo apenas sangue em minhas m?os, mas n?o estou com ferimentos, n?o é meu, ao mesmo come?o a escutar um ruído como nenhum outro, n?o parece ser um animal que conhe?a tampouco uma pessoa, ele vai ficando mais alto como se estivesse indo ao meu encontro, a sensa??o abrupta de terror percorre minha espinha como uma gota de chuva percorre um telhado para encontrar o ch?o, minha respira??o fica descompassada, me levanto e come?o a andar, apressado, mesmo sem saber para onde devo ir e o ruído parece suavizar por um momento.

Em meio a caminhada eu come?o a indagar se isso é real, se n?o estou caído a beira da estrada e isso n?o passa de um devaneio de um imaginário abastado. Come?o a enxergar um pouco um espa?o a minha frente com pouco ou nenhuma arboriza??o, apenas para me deparar com o que parece serem carca?as de animas destro?ados, há vários deles e n?o aparentam se encontrar em decomposi??o, algo esteve ali há pouco e fez isso, além disso, usou seus pequenos corpos para formar um estranho desenho no solo.

Me questiono sobre o que houve ali, ou o que ainda está acontecendo, e um vento come?a a soprar, mas dessa vez é destemperado e selvagem, castiga toda minha pele quase que a perfurando como agulhas esguias e o ruído volta a permear o ambiente, novamente me levanto e tento me afastar, dessa vez ele parece n?o cessar e vem mais rápido ao meu encontro, o vento limita ainda mais minha vis?o e quando percebo uma estranha figura está em minha frente, perto o suficiente para que eu veja sua enorme silhueta mas n?o o bastante para ver sua face, ela se aproxima de mim e meu corpo treme e fica gélido, ao que parece seu bra?o se estende para me tocar, o ar fica mais frio e minha respira??o mais pesada ao ponto de tudo a minha frente retornar a escurid?o completa...

Tudo que sinto é uma leve sensa??o de calor e logo percebo que é manh? e estou sentado embaixo de uma árvore, a estrada e todo cenário se assemelham ao o que vi no come?o da viagem, a minha direita uma placa indica que a próxima cidade está bem a poucos quil?metros e Alice está parada à minha frente, n?o perco meu tempo a observar mais nada antes de ligá-la e seguir o caminho. O evento ao qual presenciei, ainda que continue ignoto para mim, fizeram parecer que minha vida em Basin City, mesmo em seus piores dias, n?o foram t?o ruins assim, ao contrário, agora parecem memórias brilhantes.