texto em itálico s?o pensamentos

palavras em negrito s?o enfáticas na entona??o

ENCONTRO NADA CASUAL

Existem alguns momentos na vida onde sonhar é uma necessidade. Momentos esses onde a realidade é t?o dura que sonhar pode ser a única escapatória da loucura!

A vida de um mutante pode ser bem difícil, um pouco mais do que a dos ditos "normais".

Ohana estava tendo um dia daqueles; eram apenas 11:30 da manh? e ela já havia ido trabalhar, tinha chegado atrasada; acabou discutindo com o chefe e demitindo-se, afirmando – veementemente, para se convencer - merecer um emprego melhor, no mínimo, mais "humano". Realmente, n?o era fácil ser operadora de telemarketing de um produto falido! Ainda mais com a cota de vendas que seu ex-chefe – bastardo! - cismava em dar para ela.

- N?o é possível que haja alguém capaz de trabalhar sob tamanha press?o! Claro que sempre existir?o os que adoram pressionar, mas encontrar algum imbecil a ponto de subjugar-se?! – pensava, distraída.

Ohana é uma mutante, capaz de mover objetos e pessoas com o poder da mente - telecinesia, ela sabe disso, porém resolveu relegar a um segundo plano de sua vida. Isso era útil quando estava na banheira e havia esquecido o champanha; se estivesse sentada e quisesse um copo d'água, coisas assim, triviais, sempre dentro de casa... até agora.

Seus pensamentos estavam conturbados e, quando foi atravessar a rua, distraidamente, percebe, alguns segundos antes, que um carro vinha em sua dire??o. Seu reflexo foi t?o rápido que, instantaneamente, o carro para a alguns centímetros dela e é "empurrado" até o farol; a alguns metros de dist?ncia.

Enquanto essa cena desenrola-se, a certa dist?ncia, um baixinho invocado e uma garota travavam um diálogo:

- Ent?o é essa a guria, hum?

- De acordo com o que o professor captou, sim... mas que perua! – pensa a garota, que vestia uma jaqueta plastificada amarela.

- Nossa! – o homem comenta, enquanto acende um charuto - olha só como ela tem controle... acho que o Charlie a subestimou...

- Ah! N?o! Você tá chamando isso de controle?... A Jean faz isso brincando... – completa, fazendo beicinho.

- Ei, Jubi, 'cê n?o 'tá querendo comparar uma ruiva com outra, né? Quis dizer que pra uma ex-telefonista ela controla muito bem... – comenta, colocando seu chapéu de cowboy e percebendo como Ohana passa apressada pelos dois, tentando desvencilhar-se da multid?o. Ele p?de sentir o cheiro suave de seu perfume mesclado ao seu nervosismo.

- Sei, Wolvi! Sei! Pela sua cara acho melhor eu falar com ela, sen?o você vai atacá-la! Será possível que n?o pode ver uma ruiva?! - diz, dando claras mostras de ciúme...

- Nada disso, guria! A gente veio junto e vai junto até o final. Além do mais, desde quando 'cê toma conta da minha vida? - completa, tomando a dianteira e sendo seguido de perto por uma Jubileu emburrada.

Ohana estava, no mínimo, assustada! N?o queria ter feito aquilo; n?o com tanta gente olhando. Era perigoso ser mutante. Os debates na TV e os assassinatos contra os "diferentes" estavam virando rotina e, mesmo diante das promessas do chefe de polícia em tentar resolver os casos, nada concreto havia sido feito até o presente.

Algumas quadras depois, a ruiva entra num café; senta-se no bar e pede um duplo. O gar?om a encara por alguns segundos, como que para estar certo do pedido e, nesse ínterim, os X-Men entram, sentam-se em uma mesa e ficam observando de longe. Jubileu pede um suco de morango e Logan uma cerveja.

O que eles observam é uma mulher nos seus 27/30 anos, magra para a altura, com a pele bem branca e os cabelos vermelhos como fogo. A roupa que vestia deixava ver um físico até que "malhado" e deixava clara a característica independente da pessoa que a usava. Era um tailleur vermelho, porém ela n?o usava nenhuma blusa por baixo e estava desabotoado até a altura do peito, um sapato de salto agulha também vermelho completava o visual.

A telecinética pede mais um duplo e percebendo que o gar?om ia tentar persuadi-la:

- N?o... duplo n?o, apenas um com gelo, ok?

- Humpft! Além de tudo é bebum! – comenta a garota mutante, maldosamente.

- Olha, Jubi, as pessoas se comportam de maneiras diferentes diante da mesma situa??o... ela 'tá hipertensa. Acho que a gente podia falar com ela agora, o que 'cê me diz?

- Eu digo que você pode ir sozinho. Eu espero aqui... N?o tenho paciência com certos tipos de gente!... – completa, tentando parecer má.

- 'Tá gatinha, eu sei... – diz o canadense, sorrindo e batendo de leve na mesa, enquanto tira o chapéu e deixa perto da coreana: Olha pra mim, fal??

Ohana havia acabado de beber; estava decidindo se pedia mais um ou ia para casa. Seus dedos brincavam, nervosamente, com o copo, enquanto seus pés subiam e desciam no apoio da banqueta.

"Posso me sentar aqui e te pagar alguma coisa?" ela ouve; uma voz grave e decidida. Vira-se, rapidamente, topa com um baixinho de cabelo engra?ado, cal?a jeans, camiseta xadrez e botas. Dentro disso tudo um corpo muito malhado.

Diante do movimento brusco de virada da ruiva e para tentar quebrar o gelo, ele diz:

- Ei, ei, eu venho em paz! – com as m?os para cima, dá um sorriso que mais parece uma careta.

- Nossa! Como os caninos dele s?o afiados! – ela pensa e emudece; o baixinho n?o espera por uma resposta. Senta-se ao lado dela e, enquanto chama o gar?om, diz:

- Meu nome é Logan. Ainda gostaria de te pagar uma bebida, senhorita?...

- Um conselho, Sr. Logan: creio que esse n?o é o melhor modo de se aproximar de uma mulher. – sua voz demonstrava todo seu nervosismo - O sr. foi, até mesmo, rud... ele a interrompe:

- Bom, funcionou até hoje... E, como pode ver, n?o tem uma fila de mulheres pra reclamar; se n?o queria que eu me sentasse e te pagasse algo era só ter falado, tudo bem, n?o precisava ser rude, mo?a...

Ele estava certo! Ela é quem havia sido rude, e muito. Logan já estava voltando para a mesa quando ouve:

- H?... desculpe! Me-meu nome é Ohana e n?o tive a inten??o de ser rude - e nem de jogar fora a única coisa boa que me aconteceu em semanas - E-eu aceito seu drinque...

Enquanto a ruiva falava, Logan voltava para o banco ao lado dela. Sua voz era embriagante! Suave, ainda com um tom de nervosismo; mas firme em suas decis?es.

- Tá tudo bem... Dia difícil? – o mutante completa, olhando para o copo da ruiva.

- ?... Você diz por causa da bebida? Eu estou acostumada a beber, sou descendente de irlandeses, mas n?o fa?o isso frequentemente. H-hoje foi um dia bastante incomum...

Confian?a! Ele precisava ganhar sua confian?a e n?o poderia ter vindo em melhor hora um programa de entrevista, na tv do bar. A pedido de um cliente, o barman aumenta o som e o assunto é: muta??o. Ohana até mesmo esquece-se de Logan por alguns minutos, t?o entretida estava com os rumos do programa. Uma senhora no auditório dizia que todos os mutantes deviam morrer, pois n?o havia men??o deles na Bíblia. Outros discutiam fervorosamente que esse n?o era o caminho. Os dedos da mo?a voltam a brincar com o copo, agora também, uma das m?os mexe nervosamente no cabelo. Logan gostaria de dizer que partilha de seu nervosismo; pessoas fanáticas s?o o problema do mundo, ele pensa isso, mas diz outra coisa:

- Eu disse ou fiz algo de errado, Ohana?

Ouvir seu nome a faz voltar à realidade, ela n?o sabe o que ele disse antes, mas imagina ser sobre a bebida e, por isso, responde:

- Oh! Desculpe a distra??o! Eu vou querer um Blue Berry, por favor...

- Um blue pra mo?a, gar?om. – pede, levantando o bra?o e fazendo-a perceber o quanto ele é forte!

- ? pra já, sr... – o novato responde, indo preparar o drinque.

- E, ent?o, sr. Lo...

- Me chama só de Logan, ok?

- Certo! – sorri - Ent?o, Logan, sempre fica oferecendo drinques para as solitárias desse bar? – inquire, cruzando as pernas e deixando-o ver os músculos de sua coxa.

Ele olha, sem nenhum disfarce e sorri. ? bom saber que ela também está a fim dele... Se tem algo que o canadense sabe é como é difícil para ele chamar a aten??o de alguma mulher. Isso o deixa bem à vontade, porque ambos queriam a mesma coisa.

- Na verdade, eu nunca entrei nesse bar antes! E digo que, por ser a primeira vez, ele me surpreendeu. – termina, dando uma olhada geral.

Ela cora de leve, seu pensamento n?o era o que se podia chamar de modelo de pureza, naquele instante, e ele ainda dizia isso? Era música para seus ouvidos! Finalmente sairia daquela maré de azar atual... N?o que dormir com um estranho fosse saída para algo, mas ela percebia alguma honestidade nos olhos azuis daquele homem.

- Ora! Fico lisonjeada! – acena com a cabe?a - pelo menos é o melhor que já ouvi nesse bar... Você n?o gostaria de ir até minha casa, fica a alguns quarteir?es daqui. - Mas o que está fazendo, Ohana! Desse jeito ele vai perguntar quanto custa!

A pergunta o surpreende. Realmente ela era rápida e decidida; infelizmente ele teria que falar do Instituto. Negócios antes do prazer... Ele ia come?ar a puxar papo só pra garantir que n?o ia levar um tapa na cara pelo que tinha a dizer, quando ela o interrompe:

- Antes que fale alguma coisa: n?o, eu n?o costumo levar caras pra lá. ? que, sei lá... Você parece diferente. – ela morde o lábio, nervosamente.

- Fica tranquila, Ohana! Eu sou t?o diferente quanto você. Aliás, impressionante o que 'cê fez com aquele carro. Eu*

*SPLATCH* As palavras de Logan s?o interrompidas por um retumbante tapa!

- Seu filho da m?e! Você me seguiu? ? um daqueles loucos que ca?am mutantes?!

Ela fala alto, chamando a aten??o de todos no café. Uns riem, outros se assustam, nenhum desses sons incomoda Logan... Era o tapa na cara o que mais incomodava. Claro que n?o doía na carne, só no ego e, essa sim, era uma dor e tanto! Ela ia dar outro, talvez devido à demora dele em falar algo, mas Logan n?o deixa; segura sua m?o, puxa-a para si e dá-lhe um beijo, sem cerim?nia nenhuma, um beijo como a muito ela n?o recebia. Nele ela p?de perceber o quanto ele também estava a fim dela, um frio percorre seu est?mago e, antes que pudesse pensar em algo, ele para. Por algum motivo, n?o podia prosseguir... As m?os que queriam bater, agora estavam enla?adas nas m?os fortes do X-Man. Ela jamais esperaria por essa. Senta-se e com o semblante neutro que escondia um furac?o de sentimentos, diz:

- Fala! Sou todo ouvido... – sua voz n?o era mais nervosa. Tinha um quê de tristeza. - Se você está tentando me vender um seguro de vida... Bom, eu n?o preciso, como deu pra ver...

Ironia. Da mais pura, com o ácido do sarcasmo. Logan sente que as palavras n?o querem sair de sua boca. Ele preferia ter aceitado o convite de ir até a casa dela, deixar rolar, quem sabe ter um dia bom, depois de tantos sem signific?ncia; mas acha isso uma sacanagem. Senta-se, dá um gole na cerva e diz:

- Como eu disse, gata, sou t?o diferente quanto você. N?o consigo fazer as coisas flutuarem, mas tenho, digamos... uns acessórios que compensam.

- N?o veio até aqui pra me contar sua história, né?

Ohana n?o o olhava mais nos olhos. Ela n?o queria ter mais nenhum contato. Ela o tinha convidado pra ir até sua casa! N?o conseguia acreditar em si mesma! Por isso, escolheu tratá-lo como um qualquer, n?o como aquele que tinha feito, há poucos minutos, seu corpo tremer, com um simples beijo...

- Ei! Se n?o 'tá a fim de ouvir, tudo bem, eu vou embora... N?o vou gastar saliva com quem n?o 'tá nem aí! Tem jeito de olhar pra mim quando eu falo com você, ruiva?! – aproximando a m?o direita e levantando o queixo da mutante.

- Como você pode me dizer isso depois do que fez?! – ela exalta-se, suas artérias aparecendo no pesco?o – Você me seguiu... E ainda n?o respondeu se é um "ca?a-mutantes"... – for?ando o queixo para o ch?o, sem olhar ainda nos olhos dele.

Diz essa última palavra com desdém, afinal, se ele for n?o faz diferen?a agora. Isso só ia comprovar o que ela já sabia: nunca soube escolher os caras certos. Nunca!

- 'Cê queria que eu tivesse dito depois? Depois de termos transado, pra que n?o significasse nada?... N?o ia ser pior ainda? – conseguindo fazê-la olhar em seus olhos - E n?o, se eu fosse te ca?ar, 'cê já 'taria morta! – comenta baixo, sem se exaltar, dizendo o que gostaria de falar para qualquer outro, menos ela... Ele nunca teve jeito com as mulheres. Nunca!

- Hu!... Quer dizer que é assim seu verdadeiro eu? Você n?o acha...

- Do que 'cê tá falando? N?o sabe nada sobre mim e n?o fa?o quest?o disso. Olha, – ele completa, escrevendo algo num papel e batendo a m?o na mesa - nesse cart?o tem o telefone do Instituto. Quando deixar de sentir autopiedade e quiser fazer a diferen?a, liga pra esse número! – e sai, literalmente, rosnando.

A ruiva assusta-se com a atitude de Logan. Recolhe o cart?o, devagar, permanecendo sentada na mesma posi??o. O baixinho caminha até a mesa e, no caminho, solta um " 'tá olhando o quê?!" para um casal sentado na mesa ao lado.

- S'imbora, Jubi! N?o temos mais o que fazer aqui! – ele deixa uma nota de US$ 20, pega seu chapéu e sai, muito ferrado da vida. A garotinha vai logo atrás, sorrindo da cena e terminando de tomar o suco.

- O que aconteceu lá, Wolvi? – ela pergunta, depois de alguns quarteir?es em total silêncio.

- N?o quero tocar no assunto...

O resto do caminho é silêncio total. Chegam ao hotel depois de quinze minutos, cada qual vai para seu quarto e ambos se jogam na cama e ficam assim algum tempo. No bar, a telecinética fica alguns minutos sentada; depois que os dois saem. Lê a frente do cart?o:

INSTITUTO XAVIER PARA JOVENS SUPERDOTADOS

Westchester - NY

Tel.: 53-25-15-00

Ela vira-o e lê um número escrito apressadamente, com uma letra firme e quase ilegível: 45-10-17-73 H. Plaza

- Mas que raio! Depois que resolver tudo isso, prometo nunca mais reclamar da vida!